I

Todos nós aqui sabemos

Que a cultura anda pra trás…

O governo é incapaz

De ofertar o que merecemos

E assim nós padecemos

Nessa onda da exclusão.

Na literatura, então,

Só tem vez o elitizado.

Todo artista é respeitado

Porém o poeta não.

II

Patativa, lá no céu,

Certamente está chorando

E prossegue reclamando

Sem poder tirar o chapéu

Ao ver tanto malandréu

Mergulhado na ambição

Botar dinheiro na mão

Mesmo sendo afortunado.

Todo artista é respeitado

Porém o poeta não.

III

Tem vez o parlamentar

O juiz, o advogado…

O produtor aloprado

Com seu dom de enganar

E quem merece ganhar

Fica de cuia na mão

Trabalhando sempre em vão

E não é remunerado.

Todo artista é respeitado

Porém o poeta não.

IV

O mundo precisa, sim,

De amor e poesia

De saúde, de harmonia

De justiça, de festim

De um anjo querubim

Que tenha bom coração

Mas é sempre o bom ladrão

De todos o mais lembrado.

Todo artista é respeitado

Porém o poeta não.

V

Na ponga do carnaval

Tem cachê pra pagodeiro.

Da imprensa ao marqueteiro,

Ganhar dinheiro é normal;

Do axé ao escambal,

Haja grana de montão…

E em Salvador, então,

Tem setor que é explorado…

Todo artista é respeitado

Porém o poeta não.

CRÉDITOS

Autor: Antonio Barreto – (Santa Bárbara/BA), residente em Salvador

Voz do Cordel: barretocordel.wordpress.com